Mulheres conquistam mais destaque na busologia
Presença feminina no hobby mostra que não existe mais espaço para preconceito
A máxima de que a “busologia é um ambiente exclusivamente masculino” já está no passado. A cada dia que passa, as mulheres estão mais integradas ao hobby. Elas ganham destaque com suas fotos e o conhecimento demonstrado sobre o assunto.
Uma delas é a profissional de marketing imobiliário Marcela Peçanha. A carioca de 22 anos começou a se interessar por ônibus ainda na infância. “Desde criança minha mãe sempre me dizia que eu preferia andar de ônibus do que de carro, mas nunca entendeu por qual motivo. Com 11 anos comecei a aprofundar sobre o assunto, até que eu descobri sobre a busologia”, relembra.
Aos 13 anos, a jovem ganhou uma câmera fotográfica de presente e os primeiros cliques foram de ônibus. “Desde então não parei mais”, comenta Marcela. Para ela, as pinturas utilizadas pelas empresas de ônibus são o que mais chamam a atenção. A empresa União Transporte Interestadual de Luxo (Util), do grupo Guanabara, é uma de suas preferidas.
“Muitos busólogos já remetem a Util a mim. Ganhei apelidos como ‘miss Util’, ‘Util Girl’, entre outros. Mas por viajar com ela desde criança, ela acabou sendo o motivo principal por eu gostar de ônibus”, destaca.
A parte mecânica dos ônibus também chama muito a atenção de Marcela. “Acho que é porque quando se entende mais sobre a carroceria, ou o chassi, se passa a ter uma visão mais técnica sobre. Automaticamente, tudo chama a atenção”, diz.
Por circular constantemente com câmeras fotográficas em locais como rodoviárias ou garagens, a jovem chegou a ser confundida com uma jornalista da TV Gazeta, afiliada da Rede Globo em Vitória (ES). Apesar de explicar que não trabalhava na emissora, recebeu uma atenção diferenciada. “Ela voltou, me oferecendo biscoito e manga, daí agradeci e neguei. Mas foi uma das melhores e mais engraçadas recepções que tive em um dia de cliques, sem dúvida”, conta.
“O que mais me deixa feliz é poder conhecer pessoas novas, que partilham do mesmo sentimento que eu”
Em Três Rios, cidade carioca a 129 km da capital, a assistente de marketing digital Thainá Vargas também ganha destaque na busologia. A sua paixão por ônibus também se tornou uma fonte de renda, quando passou a prestar seus serviços para a empresa Britânica Transportes, de São Paulo.
“Minha ligação com ela [empresa Britânica] é simplesmente a vontade de vê-la crescer. Conheço sua história há bastante tempo, e por fim, tive a oportunidade de poder estar contribuindo em prol do crescimento dela”, conta.
Thainá iniciou na busologia em 2009, quando fez seus primeiros registros. “Já fotografava ônibus nessa época. Inclusive, tenho acervo desse ano em algum cartão de memória”, afirma.
Para ela, a possibilidade de conhecer outras pessoas que compartilham o interesse por ônibus é um diferencial do hobby. “O que mais me deixa feliz em fazer parte da busologia é poder conhecer pessoas novas, que partilham do mesmo sentimento que eu e que nunca vão me julgar”, diz Thainá.
Ela relembra a ocasião em que fotografou um carro da empresa paranaense Nossa Senhora da Penha, de prefixo 59000. “Essa foto significa muito para mim, simplesmente por gostar da empresa de tudo que a ronda”, explica.
Preconceito e assédio
Apesar do espaço conquistado, elas ainda têm de lidar com preconceito e assédio. Marcela, por exemplo, chegou a se afastar da busologia por conta da abordagem de alguns homens. “Mesmo sendo menor de idade, sofria assédio de alguns caras que tinham até três vezes minha idade na época”, denuncia.
Outro tipo de ataque sofrido é o “mansplaining”, que consiste em um homem invalidar a fala de uma mulher, demonstrando ter mais conhecimento que ela em assuntos que não dominam. “Meio que, só porque sou mulher, não posso saber que aquele ônibus tem um chassi Mercedes ou Scania. E eu trabalhei com manutenção, com certeza sei de muito mais coisas hoje, do que ele”, relata Thainá.
Já as outras mulheres que não participam da busologia demonstram admiração e interesse pelo hobby. “No meu convívio, todas as mulheres (amigas do trabalho, da faculdade, etc) ficam bem curiosas quanto ao meu hobby. Perguntam o porquê de estar sempre na rodoviária, ou viajando, e acham bem diferente, mas interessante”, diz Marcela. “Mas, devagarinho a gente conquista o nosso espaço”, complementa Thainá.
Elas vêem na busologia um ambiente saudável para as mulheres. “Já é interessante, mas o fato de ser composto por 95% homens, acaba reprimindo um pouco das mulheres se manifestarem mais. Eu mesma demorei muito para ‘ser mais presente’, justamente por ter receio de alguns homens que acham que o hobby não foi feito para nós, mulheres”, pontua Marcela.
“Sabendo lidar com os comentários maldosos e levando na esportiva, muitas vezes, acho sim que [a busologia] pode ser um ambiente interessante. Temos uma boa porcentagem de mulheres no hobby hoje, seja tirando foto ou que querem ser motorista”, garante Thainá.
Recado às mulheres
Marcela e Thainá têm em comum a paixão por ônibus e incentivam que outras mulheres também participem do hobby.
“Temos que mostrar nossas fotos para o mundo, até porque acredito que só vamos ser notadas com devido valor quando nos destacarmos na busologia. E principalmente, mulheres busólogas devem se unir e não terem qualquer tipo de rixa. Somos todas iguais e tem espaço para todas nós”
Marcela Peçanha
“Bora pra cima, com tudo!”
Thainá Vargas