Câmara Legislativa discute, em audiência pública, situação da Rodoviária do Plano Piloto
Recente decisão do governo de retornar a administração da rodoviária para a Secretaria de Transportes e Mobilidade foi bem recebida pelos participantes do debate
Falta de segurança e de manutenção na Rodoviária de Brasília foram problemas apontados por participantes de audiência pública da Câmara Legislativa na manhã desta quarta-feira (08/12/21), no plenário, transmitida ao vivo pela TV Câmara Distrital (canal 9.3) e Youtube.
O mediador do debate, deputado Chico Vigilante (PT), descreveu a situação da Rodoviária do Plano Piloto como “dramática de abandono e descaso”. No espaço, “que já foi um dos cartões de visita da cidade, hoje está difícil até de comer o tradicional pastel com caldo de cana” devido à ocupação desordenada, pontuou. Segundo o parlamentar, o desafio é encontrar mecanismos para que a rodoviária volte a ser um local seguro e satisfatório para a população.
Durante o evento, foi apresentado um vídeo feito pela Associação dos Usuários da Rodoviária de Brasília (AURB), em que a usuária Maria de Jesus mostra os problemas da área, como vazamentos no teto, sujeira nos banheiros e instalações elétricas deterioradas. Ela acrescentou o problema social e a falta de segurança, a exemplo de moradores de rua e traficantes de drogas, e a ocorrência até de assassinatos na área. Ao destacar que no local transitam em torno de quinhentas mil pessoas diariamente, ela, que também participou da audiência, defendeu que todos merecem circular em um espaço decente.
“A rodoviária é o marco zero de Brasília, no traço do arquiteto que sonhou a cidade com essa estrutura de mobilidade”, afirmou Maria de Jesus, que apelou pelo cuidado do espaço.
De acordo com o presidente da AURB, Keeslew Caixeta Lobo, o cenário de dificuldades no local teve início na gestão do ex-governador Rodrigo Rollemberg, quando começaram as obras no local, “mal planejadas e mal executadas”. “Pedimos uma mobilização das secretarias do DF para uma atuação conjunta dos órgãos”, afirmou. Ele reivindicou orçamento próprio para a rodoviária, como já aconteceu em gestões anteriores, e alegou que qualquer cidadão “tem o direito de passar pelo local e, com baixo custo, fazer um lanche e seguir a vida para o trabalho”.
“Sou mãe solteira e consegui criar e formar dois filhos vendendo hambúrguer a um real na rodoviária”, narrou a comerciante Domingas, há vinte anos no local. Ela protestou contra a falta de limpeza, fiscalização e segurança no espaço. “Eu amo a rodoviária e é tão triste olhar a situação hoje porque não consigo sequer levar meu sobrinho de cinco anos ao banheiro porque tem sexo ao vivo dentro dos banheiros da rodoviária”, contou. “Trabalhamos de seis às dez da noite, e pedimos respeito”, frisou, ao reclamar ainda dos resultados das reformas que foram feitas no local. “A rodoviária pede socorro”, concluiu.
Mudanças
Em resposta aos problemas apontados, representantes do GDF se manifestaram no evento, entre eles o administrador da Rodoviária do Plano Piloto, Josué Martins de Oliveira. “A situação social é crítica na área”, afirmou. Ele justificou que o atual governo encontrou o espaço sucateado, com “reformas paradas”, mas que busca mudanças desde que assumiu.
Por sua vez, o chefe do departamento de Edificações da Novacap, Carlos Alberto Spies, um dos órgãos responsáveis pela manutenção e zeladoria da rodoviária, disse “estar preocupado com a parte de segurança e pânico de incêndio”. Ele apontou ainda problemas de infiltração em reservatórios de água, em elevadores e escadas, entre outras questões estruturais. Contudo, ele adiantou que estão sendo feitos novos projetos voltados à reforma e manutenção dos espaços.
Na avaliação do secretário das Cidades do DF, Valmir Lemos Oliveira, a rodoviária soma questões de transporte, infraestrutura, assistência social, saúde pública e fiscalização. “A rodoviária é um patrimônio de todos nós”, considerou. Segundo ele, o governo tem realizado ações para a recuperação do local, mas elas “ainda não se tornaram perceptíveis” para a comunidade. Lemos acredita que a situação vai melhorar com a recente decisão do governo de retornar a administração da rodoviária para a Secretaria de Transportes e Mobilidade.
Ao se dizer “satisfeito” em saber que esta pasta vai “assumir o terminal rodoviário”, o deputado Chico Vigilante solicitou ao secretário de Transportes, Valter Casimiro, esclarecimentos sobre a questão dos permissionários.
Nesse aspecto, Casimiro explicou que o processo licitatório de concessão da Rodoviária não visa exploração comercial das lojas, mas sim dar condições de segurança e manutenção dos equipamentos públicos. A intenção é preservar os permissionários legais hoje existentes, informou, ao anunciar que está sendo elaborado um projeto que contemplará fontes de receita, como a cobrança de estacionamento, para a gestão da área. “Não vamos aguardar o processo licitatório para fazer melhorias e queremos dar velocidade às ações na rodoviária já no início do próximo ano”, adiantou.
Para averiguar as possíveis mudanças e situação da rodoviária, o deputado Chico Vigilante anunciou que será realizada uma nova audiência pública na segunda quinzena de março do ano que vem.