Grupo empresarial administrado por Sidnei Piva está em recuperação judicial desde 2016, com dívida estimada em R$ 2 bilhões

A empresa de ônibus Viação Itapemirim vive um dos piores momentos desde sua fundação, em 4 de julho de 1953. Desde 2016, o grupo empresarial administrado por Sidnei Piva está em recuperação judicial, com uma dívida estimada em R$ 2 bilhões. Uma greve de trabalhadores deflagrada na última quinta-feira (10/02/22) agravou a situação da companhia (saiba mais no final do texto, na seção “crise na Itapemirim”).

O quadro enfrentado pela viação levou um grupo de busólogos a criar e compartilhar a hashtag #TodosPelaItapemirim, com menções ao perfil oficial da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). O objetivo do movimento digital é chamar a atenção da autarquia “para ‘proteger’ os [ônibus da] Itapemirim, que é patrimônio do Brasil especialmente no setor de transportes”.

A tag foi divulgada inicialmente pelo influenciador digital Jonatha Diego, administrador da página Busólogo de Coração. Ele afirma que a ideia partiu de um grupo de conversas por aplicativo administrado por ele e que o movimento vem ganhando muitos adeptos. “Já que ela [ANTT] protege tantos outros interesses, porque não proteger algo que faz parte da raiz e cultura do brasileiro?”, opina.

Para ele, a Itapemirim não é uma empresa qualquer. O influencer acredita que há um exagero na cobertura midiática quando o tema é a situação do grupo empresarial. “A Itapemirim ajudou a construir o Brasil e tudo neste país que teve algo tão relevante para o nosso crescimento, deve ser respeitado e tratado de maneira que tragam soluções e não destruições”, defende Jonatha. “Percebo que há uma perseguição e tenho orado para o meu Deus para que ele me use como arauto dele no setor, com justiça, amor e principalmente verdade”, complementa.

O influencer reconhece que a empresa precisa de melhorias “em praticamente em todos os aspectos, inclusive, administrativo”. “Com a chegada do novo diretor na viação, conhecendo seu legado, vi que as mudanças começaram a partir dali. É claro que uma empresa gigante como a Itapemirim precisa de tempo e de pessoas dedicadas é que acreditam na sua melhora”, analisa Jonatha.

Segundo ele, o movimento tem potencial para atingir seu objetivo, pois “a busologia se tornou muito forte digitalmente a ponto de influenciar no setor de transporte”. “Ainda que nossa voz não seja reconhecida juridicamente, precisamos tornar isso real para quem fiscaliza”, pontua.

Ainda de acordo com Jonatha, o trabalho desempenhado por ele e outros influenciadores na internet tem, como objetivo final, “tornar o transporte rodoviário no Brasil um dos melhores no mundo”. “E eu acredito que voz digital já temos a ponto de chamar a atenção da ANTT”, declarou.

“Quero proteger os colaboradores ativos, a história da empresa, a marca que ela deixa e, principalmente, as estradas do Brasil com um ônibus Itapemirim sendo visto, ainda que pouco.” 

Relação com a Itapemirirm

Foi a Itapemirim que despertou o interesse pessoal de Jonatha Diego pela área de transporte, para a qual passou a se dedicar. Administrador de empresas de formação, está à frente da página “Busólogo de Coração” no Instagram, que reúne 56,9 mil seguidores.

Na plataforma digital, Jonatha atua como influencer do setor rodoviário e faz postagens com o acervo fotográfico de suas viagens de ônibus. Além disso, ele divulga informações sobre transporte rodoviário e responde dúvidas de internautas sobre direitos do passageiro.

“A minha relação com a Itapemirim está além de uma parceria. A empresa faz parte do meu legado, pois foi com ela que descobri o interesse pelo transporte rodoviário. Com as oportunidades que tive logo no começo, entendi que a ligação entre eu e ela, iria muito além, em tempos que o homem comum não entende, pois está além da compreensão natural”, explica Jonatha. “Falo de algo espiritual, pois acredito em propósitos de um Deus que sirvo e acredito que tem feito os laços ainda mais estreitos entre nós”, completa.

Crise na Itapemirim

No último dia 10 de fevereiro, funcionários da companhia entraram em greve. Os trabalhadores reivindicavam pagamento de salários e tíquetes alimentação atrasados e alegaram que a Itapemirim não cumpriu um acordo anterior de regularizar os pagamentos. 

Com isso, milhares de pessoas pelo Brasil ficaram prejudicadas. Segundo informações do site g1, motoristas da empresa chegaram a interromper viagens em andamento, abandonando passageiros em outras cidades longe de seus destinos. A empresa, procurada, não dava qualquer satisfação.

Ao site Diário do Transporte, a Itapemirim desmentiu as acusações de atrasos no pagamento. “O Grupo informa também, que em entendimento com o sindicato da categoria, já na quarta-feira (09/02/22), anunciou por comunicado interno a todos os trabalhadores sobre o pagamento do salário referente ao mês de janeiro de 2022, nesta sexta-feira (11). Em negociação com sindicato, ficou definido, também, que os colaboradores seguem trabalhando e as linhas continuam sendo operadas, sem prejuízo aos usuários”, destacou a empresa.

Ainda de acordo com o site, empresas de ônibus filiadas à Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros (Abrati) iniciaram um atendimento especial para atender os passageiros prejudicados pelas paralisações da Itapemirim. As companhias ofereceram descontos de 50% e, em alguns casos, até mesmo cortesia.

“A Itapemirim não tem linha exclusiva, todas têm concorrentes e a maioria delas empresas associadas da Abrati. Portanto, o passageiro não ficará desatendido, a ANTT poderá contar com a Abrati na articulação junto as associadas para atender os passageiros nos locais onde a Itapemirim está com dificuldade de operação ou serviços suspensos”, garante a associação.

Já a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) diz acompanhar a situação. “Para mitigar ao máximo os efeitos para os passageiros que compraram bilhetes de passagem dessa transportadora, a ANTT está trabalhando para que não haja descontinuidade do serviço, auxiliando na relocação dos usuários em veículos de outras transportadoras”, assegura.

“Informamos ainda, que as equipes de fiscalização estão em alerta, monitorando a situação e realizando inspeções nas rodoviárias para verificar, principalmente, a regularidade dos veículos e o nível de operação das viagens programadas”, diz a agência.

A situação é semelhante à vivida pelo grupo no setor aéreo. Em dezembro de 2021, a ITA Transportes Aéreos suspendeu suas atividades. Passageiros compradores dos bilhetes foram pegos de surpresa na hora da viagem e ficaram nos aeroportos sem saber o que fazer, já que os guichês da companhia estavam fechados. A companhia aérea fez seu primeiro voo em julho de 2021.